Uma crise global, um desafio local

05 Jun
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Foi em março de 2020

Chegou ao nosso país a 2 de março de 2020. Dois casos de Covid-19.

Chegou sem avisar e transformou o nosso mundo, a nossa vida.

Fechou escolas, empresas, instituições…as pessoas que viviam com normalidade as suas rotinas ficaram em casa.

As cidades ficaram vazias, silenciosas, as escolas deixaram de ter os sons que as enchem, os risos, os choros, as brincadeiras.

De repente havia tempo para tudo, num instante a poluição desceu a níveis nunca vistos, teríamos de recuar 100 anos. Os rios ficaram limpos, o ar mais puro e até a chuva caiu como há muito não se via. Será tudo isto um pedido de socorro da Mãe Natureza? Um pedido de abrandamento ao Ser Humano?

Mas o preço foi alto: perderam-se muitas vidas humanas, a economia caiu, cresceu o desemprego, as dificuldades acentuaram-se.

“Os adultos vão lembrar-se desta época como um caos na saúde e na economia. As crianças vão lembrar-se das refeições em família, dos banhos demorados, das histórias contadas, dos shows na sala, de cozinhar, pintar desenhar. O papel agora também passa por construirmos memórias afetivas na infância das nossas crianças.”

As Instituições…

As instituições viveram dias difíceis, faltaram as disputas, os abraços, os gritos, os risos, os mimos, as rotinas, a agitação, faltaram os bons dias nos corredores, os passos apressados, as correrias, faltaram os cheirinhos característicos que só nós reconhecemos.

Faltaram mensalidades, reduzidas porque a atividade foi suspensa, chegaram também algumas desistências e com elas algumas palavras que calaram fundo nas pessoas que durante dias, meses, anos deram carinho e ajudaram a crescer crianças saudáveis e felizes.

Algumas instituições fecharam portas. Fica a questão: quando tudo voltar lentamente à normalidade como será? Para onde vão essas crianças?

Os Educadores…

Os Educadores ficaram em isolamento social, foi tempo de reclusão, de se reinventarem e de permanecerem ainda que à distância, junto das suas crianças e famílias.

A decisão foi unanime: temos de manter o contacto!

Alimentar as relações que foram abruptamente cortadas pelo Covid-19. Houve partilha de experiências, de ansiedades, de dificuldades. As Educadoras fizeram o seu trabalho ainda que à distância, foram enviadas sugestões de atividades, que em muitos momentos significaram uma enorme dificuldade em conjugar atividades com os materiais de fácil aquisição por parte dos pais. Ao mesmo tempo era importante que todas as atividades fossem envolventes, dinâmicas, motivadoras e com intencionalidade educativa, onde as aprendizagens estivessem sempre presentes. Foram enviados vídeos que nos aproximavam, embora com o surgimento de alguma dificuldade pela exposição, mas que se traduziram em momentos importantes, onde cada Educadora interagia com o grupo, contando histórias, cantando canções, lengalengas, rimas, receitas, danças… A utilização desta estratégia aproximou-nos de crianças e famílias proporcionando momentos especiais, tentando sempre manter a memória do jardim-de-infância e da creche, respeitando a importância do brincar, do tempo em família, das descobertas, das aventuras e do intensificar afetos.

O grande desafio foi acompanhar as famílias, respondendo às dificuldades, às ansiedades e às dúvidas que sentiam.

As famílias…

A vida mudou, o tempo em família foi inteiro, deixaram de ser pais à pressa, pais de fim-de-semana, “conheceram” os filhos, tiveram todo o tempo do mundo para eles. Foi valorizado o tempo em família.

Nem tudo foi fácil, em muitas famílias faltaram os rendimentos, outras tiveram de gerir o teletrabalho, a telescola e as rotinas familiares.

Esperemos que sejam recuperados valores familiares perdidos na correria do dia-a-dia.

O Lar de Infância e Juventude…

A pandemia provocada pelo Covid-19 exigiu uma mudança repentina nas rotinas da casa de acolhimento, gerando grandes desafios na dinâmica e funcionamento da mesma.

Neste contexto de incerteza e insegurança surgem nas adolescentes desta casa de acolhimento um turbilhão de perguntas e emoções nunca antes vividas. As relações familiares mudaram, o formato da socialidade também e como é não poder estar com os amigos? As saudades da família e dos amigos apertam, os atos de carinho, os beijos e abraços de bom dia das funcionárias,… tudo modificou.

É uma azáfama para lá e para cá: verificar se lavaram corretamente as mãos, se mediram a temperatura, se não há eventuais sintomas…

Para minimizar esta ansiedade foram feitas intervenções com as jovens que passaram pela explicação da pandemia e o isolamento, partindo do que as jovens conheciam e desmistificando ideias erradas.

Foi explicada a importância dos comportamentos de higiene, etiqueta respiratória e distanciamento social, através de imagens e exemplos e foi reforçada a ideia de que podiam e deviam manter os contactos familiares e com amigos através de videochamadas.

No que diz respeito às atividades escolares, as jovens foram incentivadas a realizar as mesmas através da organização de horários (sala de estudo e sala da televisão), disponibilização de recursos necessários, e participando ativamente nesta dinâmica.

Foi mantido o ambiente securizante desta casa de acolhimento, apesar das limitações (físicas e emocionais) que este confinamento obrigou. “Juntas somos sempre mais.”

Maio 2020

Acabado o tempo de confinamento e o estado de emergência, é chegada a hora da reabertura, a hora de voltar, de deixar de ter a vida suspensa. Mas a normalidade está longe de ser a que tão bem conhecíamos, porque há normas, medidas, regras para proteção de todos que é necessário implementar e cumprir.

As dúvidas acumulam-se, as questões são imensas…

Como manter o distanciamento de 2 metros entre crianças que estão tão habituadas ao toque, ao afeto?

Na creche, no jardim-de-infância as relações são baseadas nos afetos, há o colo, o beijinho milagroso que cura tudo, o abraço reconfortante depois da dificuldade…

Agora dizem-nos que não pode ser, dizem-nos que temos que andar de máscara, de viseira. É preocupante o impacto emocional que tudo isto vai ter nas nossas crianças, mas como sempre toda a equipa da Casa de Santa Isabel dará o seu melhor para que tudo corra bem, e para contornar as dificuldades.

Compete-nos a todos reerguermo-nos e suavizar os danos provocados por esta pandemia.

Eramos felizes e queremos continuar a sê-lo!!

 

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